sexta-feira, 26 de março de 2010

Cinebiografias Femininas



Amelia e Coco 

As cinebiografias sempre estão em voga no cinema, e podem ser consideradas um investimento seguro por quase sempre agradar a crítica e ter boas chances no Oscar, principalmente os atores responsáveis por encarnar com todos os detalhes, físicos e psicológicos, a vida de pessoas célebres em seu tempo.

É o caso destas duas produções que retratam duas mulheres célebres, a americana Amelia Earhart no filme "Amelia" dirigido por Mira Nair, e a francesa Gabrielle Coco Chanel no filme "Coco Antes de Chanel", dirigido por Anne Fontaine.

Apesar de algumas coincidências, cada filme opta por seguir um caminho distinto.

Começo por "Amelia" que retrata a vida da lendária norte-americana que foi uma pioneira na aviação, sendo a primeira mulher a conseguir cruzar o pacífico pilotando um avião. As intenções do filme são bastante claras e a edição segue um caminho clássico: inicia o filme com um pedacinho do clímax final e depois retrocede para mostrar como se chegou até ali. "Amelia", nota-se, é um filme cheio de boas inteções. Figurinos e direção de arte impecáveis, boa fotografia, a sempre esforçada Hilary Swank dá o seu melhor... Mas a verdade é que de boas intenções, como se sabe, o inferno está cheio; e na prática o filme peca por ser esquemático demais, controlado demais e por vezes clichê demais. Mira Nair nas poucas chances que tem de contornar essa retranca mostra-se pouco experiente ao lidar com cenas de ação e gélida ao lidar com a vida amorosa de Earhart.

Já "Coco Antes de Chanel" propõe algo arriscado em termos de biografias, o de mostrar o mito antes de este se tornar célebre, e assim retratar os fatos e pequenos detalhes que fizeram tal pessoa, no caso a famosa estilista francesa Coco Chanel, se tornar conhecida e admirada. Esta atitude acaba por frustrar o espectador que espera encontrar no filme a materialização visual daquilo que ele já conhece da Chanel. Mas inegavelmente para quem aprecia um cinema mais intimista e original, esta é sim uma proposta muitíssimo louvável. E Anne Fontaine não decepciona ao retratar com riqueza de detalhes e sentimentos a vida de Coco Chanel, em mais um notável desempenho de Audrey Tautou. As dificuldades financeiras e idas e vindas de sua vida amorosa foram fatores, segundo "Coco Antes de Chanel" determinantes na vida da estilista, que muito transportou da sua atitude para as suas roupas; e assim se tornou um ícone e uma marca ainda fortíssima no mundo da moda.


Curiosidades: Na corrida pelos prêmios, "Coco Antes de Chanel" levou a melhor, foi indicado ao Oscar de Melhor Figurino e obteve uma série de outras indicações nas premiações européias. Já "Amelia" não foi indicado a nada.

Em termos de bilheteria, "Coco" também teve mais sorte. O filme custou 23 milhões e obteve mais de 50 milhões mundialmente de bilheteria. Já "Amelia" deu prejuízo, custou 40 milhões e rendeu apenas 20 milhões mundialmente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Livro x Filme

X

"Uma Vida Interrompida" escrito por Alice Sebold fez bastante sucesso na época em que foi lançado, tanto nos EUA como aqui no Brasil. A temática pode não ser totalmente nova, mas a forma como Sebold disserta sobre a morte e também a forma como ela relata a visão e percepção da pessoa que se foi têm do impacto que a sua morte causa nas pessoas que ficaram é bastante eficiente, e por vezes emocionante.

Eu já li o livro há um bom tempo, mais de 5 anos. E o que ficou para mim realmente foi o drama da família, me marcou a forma como a autora desenvolve esta perspectiva familiar, onde o pai se torna obcecado por tentar descobrir o que aconteceu com a filha, a mãe se fecha e desesperadamente tenta seguir em frente, o casamento se corrói, os irmãos mais novos acabam sofrendo...

O livro não chega a ser uma leitura fácil, porque se Sebold sabe como emocionar, ela também soube criar uma retranca forte e entupiu o livro de longas descrições sobre o local onde a protagonista Susie se encontrava, uma espécie de lugar de passagem e de transição.

O filme, que no Brasil ganhou o título "Um Olhar do Paraíso", tinha tudo para ser aquele tipo de filme que poderia superar a obra que lhe deu origem. O elenco escalado era forte, a direção e roteiro ficou com o ganhador do Oscar Peter Jackson e os efeitos especiais tinham tudo para suavizar e dar ritmo as por vezes cansativas descrições de Sebold.

Mas na prática não foi o que aconteceu. "Um Olhar do Paraíso" sofreu uma série de percalços (ver abaixo nas Curiosidades) e o resultado final é um filme apenas mediano, que em muito deve ao seu material de origem. A grande força do filme, o drama familiar, é muito prejudicado por uma edição infeliz e pela atuação desencontrada de Mark Wahlberg como o pai de Susie. Apesar dos esforços de Weisz, Sarandon, Tucci e principalmente de Saiorse Ronan como Susie, as atuações acabam se perdendo pela ineficiência do roteiro em fundamentar e dar crédito ao drama familiar como um todo, e não apenas ao drama individual de cada um.

Tecnicamente o filme é bonito, os efeitos visuais e direção de arte são bons, mas por vezes Jackson erra feio no tom e acaba soando brega e o tal paraíso por vezes soa totalmente cafona e de mal gosto. No geral é um filme com um potencial muito grande que acabou resultando em algo apenas regular e razoável.

Notas: Filme 6,5
Livro 8,0

Curiosidades: O intérprete original do papel do pai Jack era Ryan Goslin, mas já na fase de pré-produção o ator se desentendeu com Peter Jackson e deixou a produção.

A produção do filme foi interrompida em alguns momentos pois Peter Jackson teve crises em relação ao Paraíso onde Susie passa boa parte do filme. A tonalidade das nuvens e outros fatores fizeram Jackson ter sérias crises criativas e atrasaram o cronograma do filme.

terça-feira, 23 de março de 2010

Clássico

O que Terá Acontecido a Baby Jane?

A primeira coisa a ser dita sobre "O Que Terá Acontecido a Baby Jane" é que este sem dúvida alguma não é um filme clássico comum.

Na verdade o filme tinha poucas chances de ser considerado um clássico. A produção foi relativamente barata e o roteiro misturava drama e suspense com pitadas cômicas, uma combinação difícil de dar certo. Mesmo as atrizes principais, as estrelas Bette Davis e Joan Crawford, já não estavam mais no auge de suas carreiras e viviam um momento de certo ostracismo no cinema.

Corre a lenda na verdade que ambas só aceitaram fazer este filme porque se odiavam mesmo, assim como as irmãs que elas encarnam na trama. Jane (Davis) fez muito sucesso quando criança, sempre observada pelo olhar com um que de inveja de sua irmã Blanche (Crawford). Já adultas, é Blanche quem vira uma estrela de cinema, enquanto Jane amarga fracassos e rejeições. Já velhas e esquecidas, ambas vivem agora em um casarão, onde a agora paralítica Blanche fica a mercê das vontades da perturbada Jane.

"O que Terá Acontecido a Baby Jane" é um filme recheado de sarcasmo e de um humor negro notável. Na verdade ele funciona mesmo talvez pela palpável rivalidade entre as irmãs, que respiram ódio e mágoas profundas. O jogo de terror psicológico travado entre ambas é o grande apelo do filme, que se tornou cult e sobreviveu ao tempo graças a uma rivalidade real levada para dentro da tela.

Curiosidades: Boatos dizem que dentro do set a rivalidade entre ambas estrelas era grande. Joan Crawford era na época casada com um dos donos da Pepsi, e para provocá-la Bette Davis mandou instalar uma máquina de Coca-Cola em pleno set. Para se vingar, nas cenas onde Davis tinha de arrastá-la, Crawford colocava peso em seus bolsos.

O filme brasileiro "Irma Vap - O Retorno" é todo ele uma colagem de "O Que Terá Acontecido a Baby Jane", copiando muitas situações do filme clássico de 1962.

"O que Terá Acontecido a Baby Jane" foi o último filme pelo qual Bette Davis concorreu ao Oscar de Melhor Atriz. O filme ganhou o Oscar de Melhor Figurino e recebeu ainda outras três indicações.