quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cinema Nacional: eis a questão


O cinema nacional é assunto de debate desde que me entendo por gente. É um assunto extremamente polêmico e cheio de opiniões contraditórias, recheado de lembranças passadas e também passível de muito, mas muito preconceito.

O espectador "normal", aquele que não é cinéfilo e assiste filmes como forma de entretenimento e diversão, e não os enxerga como arte ou até religião, é a grande maioria do público no mundo todo. No Brasil não é diferente, para a maioria cinema é diversão e para poucos é um hobby e/ou algo muito maior que isso.

Mas essa grande maioria não se furta de falar e opinar sobre o cinema nacional. Para as pessoas que nasceram na década de 60 até a de 70 a imagem do cinema nacional ainda traz ecos das chanchadas e da nudez. Para quem já nasceu na década de 80 figura a lembrança dos filmes sobre pobreza e seca do Nordeste. E para o público mais novo, o tom é de comédia e cinebiografias, que são hoje o grande carro chefe das bilheterias nacionais.

A questão é que o grande público têm pouco interesse pelo cinema nacional como um todo. O público brasileiro ainda é muito televisivo, e só o que a TV veicula e divulga sobre o cinema nacional é que têm alguma chance de dar certo comercialmente, salvo raras excessões.

Um bom exemplo é este simpático "As Melhores Coisas do Mundo", da sempre interessante Laís Bodanzky. É um filme que começa meio devagar mais aos poucos vai te conquistando e revela facetas e propõe discussões de assuntos atuais extremamente relevantes. Bodanzky aliás como cineasta evoluiu de forma gigantesca, onde a boa vontade de seus anteriores "Bicho de Sete Cabeças" e "Chega de Saudade" compensavam a falta de técnica. Aqui, porém, a cineasta evolui e entrega um filme tecnicamente muito bom e com substância e conteúdo no roteiro e atuações.

O filme teve até uma boa distribuição, pelo menos na cidade de São Paulo foram quase 20 salas e no Brasil quase 150 exibindo. Mas a bilheteria do filme no Brasil na primeira semana foi de 50 mil pessoas. A comédia americana boboca "Caçador de Recompensas" com a mesma quantidade de salas fez mais de 100 mil espectadores. Ou seja, o público brasileiro adora falar mal do cinema nacional, mesmo sem assistir suas produções. O nome para isto é um só: preconceito.

Citei nos cartazes acima outros filmes de mais conteúdo, como "À Deriva", "Budapeste" e "Apenas o Fim". São filmes que apesar de erros e acertos têm seu valor e têm propostas interessantes, formatos diferentes, assuntos mais profundos.

Ainda acho que a produção nacional precisa de mais regularidade e investir mais em roteiros originais. Porém continuo assistindo na medida do possível as produções nacionais que vão surgindo, e vou formando minha opinião com base naquilo que eu vejo, e não daquilo que escuto ou apenas suponho.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

God Save the Queen(s)




As biografias de figuras históricas e notórias da realeza européia vêm ano a ano se constituindo quase que um gênero cinematográfico no mercado atual. Mas qual seria o motivo do crescimento deste estilo de filme, que é extremamente clássico e que confronta toda a tecnologia e a busca por inovações que o mundo vive hoje, sendo o cinema um dos grandes expoentes dessa nova onda tecnológica, vide o sucesso dos filmes em 3D.

Esta relação entre passado e futuro é extremamente complexa e cheia de possibilidades. Mas acho que resumidamente falando, as pessoas enxergam no passado, no clássico e na história de forma geral uma certa válvula de escape, uma fuga do mundo real para um mundo mais glamuroso. E logicamente também existe o aspecto teórico e histórico, onde a assimilação de coisas passadas podem ajudar no entendimento de acontecimentos presentes e futuros.




Falando especificamente destes quatro filmes em si, "Maria Antonieta" é sem dúvida o mais ousado e "moderninho" dos quatro. Sofia Copolla fez uso de elementos modernos na trilha sonora e recheou o filme com pitadas pop, porém não abriu mão dos figurinos e direção de arte impecáveis, como todo bom filme de época e de rainha deve ter. Uma pena que o roteiro em si de Maria Antonieta seja um pouco apático e não tenha a força e inteligência necessárias para concluir esta fusão entre passado e presente de forma satisfatória.


"A Duquesa" e "Elizabeth - A Era de Ouro" são filmes que se focam muito na vida amorosa de suas altezas, e tentam com este foco extrair uma radiografia da vida de mulheres que estiveram a frente de seu tempo, mas que amorosamente se mostraram frustradas e oprimidas por um mundo extremamente machista. Neste quesito, A Duquesa funciona bem; porém a continuação do bom Elizabeth de 1998 é extremamente mal construída.

Já "A Jovem Victoria" é a novidade deste ano, na minha opinião é o mais bem balanceado dos filmes sobre Rainhas e Duquesas. Emily Blunt está mais uma vez sensacional e o filme é interessante e bem informativo sem cair nas armadilhas românticas do gênero. Pode não ter a ousadia do Maria Antonieta, mas é certamente um bom filme e historicamente bastante informativo.

Curiosidades: Os quatro filmes citados foram ganhadores do Oscar de Melhor Figurino. Maria Antonieta em 2007, Elizabeth - A Era de Ouro em 2008, A Duquesa em 2009 e A Jovem Victoria em 2010.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Filmes e Poesia

Alguns filmes não são apenas diversão, como todos sabemos. Mas muitas vezes eles também conseguem transpor barreiras ou linguagens, são diferentes e únicos.

A relação entre filmes e poesia surgiu na minha cabeça, creio, pelo fato de a poesia, apesar de bela, muitas vezes ser uma leitura difícil, complexa e destituída de ritmo para leitores (como eu) acostumados com livros de ficção e com narrativa fluente.

Este também pode ser o caso de alguns filmes, e dois deles me chamaram a atenção recentemente por me provocarem este sentimento.

"Bright Star" (ou Brilho de Uma Paixão, como deve ficar o título nacional) é um filme tipicamente poético. Aliás, ele realmente o é sobre um poeta, o inglês John Keats. O filme romanceia sua vida amorosa com Fanny Brawne em seus últimos anos de vida. O projeto é conduzido por Jane Campion, sempre uma diretora interessante, e o duo de atores centrais Ben Whishaw e Abbie Cornish está magnífico. O filme esteticamente é belíssimo, lindas imagens e um profundo sentido poético podem ser observados pelo espectador. Não é, contudo, um filme fácil, já que o ritmo é lento e por vezes chega ele chega a ser declamado demais. Mas sua beleza e sensibilidade são inegáveis.

"Onde Vivem os Monstros" também considerei um filme extremamente poético. Spike Jonze conseguiu imprimir sua marca clássica de estranheza e um pouco bizarra mas não deixou o filme soar apenas excêntrico. É um belo retrato sobre a infância e a solidão de um garoto (o ótimo Max Records) que encontra num mundo imaginário uma forma de se integrar e dar sentido a sua breve, porém importante existência. O filme não é muito atrativo para crianças, mas para adultos pacientes com seu ritmo relativamente lento, é com certeza uma produção capaz de emocionar e fazer pensar.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Achados ou Perdidos

Alguns filmes não conseguem chegar ao circuito de cinema brasileiro, e são lançados diretamente em dvd. Isso acontece geralmente quando o filme é americano e ele acaba não fazendo muito sucesso comercial por lá, por mais que a crítica tenha sido favorável.

Esse pensamento, creio eu, faz parte de um círculo vicioso que se criou, de um preconceito meio bobo de que qualquer filme europeu de arte, mesmo ruim, é melhor intelectualmente que um filme americano. Hollywood produz ano a ano filmes extremamente comerciais, mas também existem filmes nos EUA produzidos com esforço e de forma independente, fora do eixo comercial.

Porém o público e os distribuidores brasileiros ainda parecem afeitos a esta idéia um tanto ultrapassada de valorizar a penas o que vem da Europa como sendo cult e cabeça, e generalizar a produção americana, tomando-a apenas por cinema comercial e diversão passageira.

Proponho aqui apresentar dois filmes americanos que talvez tenham sofrido este preconceito, não foram distribuídos nos cinemas e ganharam ainda por cima títulos infames no Brasil para serem lançados em dvd.

"Por uma Vida Melhor" foi o título dado para Away We Go, filme mais recente de Sam Mendes (Beleza Americana, Foi Apenas Um Sonho). É um misto de comédia e drama que em forma de road movie vai apresentando lugares e pessoas que o casal de protagonistas (os ótimos Jonh Krasinski e Maya Rudolph) vão conhecendo e deixando para trás, na tentativa de dar um rumo para suas vidas e encontrar o lugar ideal para se fixarem e formarem sua família.

É um filme que disserta muito sobre o peso que é na vida de qualquer um ter um lar, ser uma pessoa com um emprego, com uma vida estável. E junto com essa agonia do par central, o roteiro também vai revelando que o "normal" é algo muito relativo, já que as pessoas que ambos encontram pelo caminho podem já ter suas vidas fixadas e estabilizadas, mas são também cheias de frustrações e excentricidades.

É um filme agradável, doce e incrivelmente simpático. E com uma trilha sonora ótima.

Já "Férias Frustradas de Verão" foi o vexaminoso nome dado para Adventureland. Este é o típico filme que engana qualquer um, seja pela capa, pelo trailer, por este título boboca brasileiro e também pelo nome de Greg Motolla (de Superbad) na direção. "Superbad" era uma comédia tipicamente "American Pie" com um tanto a mais de cérebro e sentimento. Já Adventureland é mais do que uma simples comédia, é um filme nostálgico e cheio de sutilezas sobre adolescência, amor, primeiros empregos, dúvidas e tantas outras questões que nos afligem na adolescência.

Foi na minha opinião sem dúvida um dos filmes que mais gostei de ver no ano passado. O ambiente do parque em si, onde se desenrola toda a história, já proporciona esta nostalgia, pois o filme se passa no final na década de 80 e lá ainda existiam brinquedos mais pueris e singelos, e o mundo eletrônico e ultra moderno de hoje ainda faziam parte dos mais distantes sonhos.

Não querendo soar muito repetitivo, é um filme também muito agradável, doce e bastante divertido. E a trilha sonora deste também é genial.