segunda-feira, 12 de julho de 2010

Dois países, dois filmes e um mesmo problema

 França x EUA 

O cinema já contou algumas histórias sobre o universo escolar. Algumas retrataram alunos problemáticos e seus mestres, outros tantos filmes buscaram focar o aspecto da divisão de categorias existentes no ambiente estudantil. Nerd’s, patricinhas, esportistas, descolados... Todo mundo já teve a sua vez.

Recentemente dois filmes voltaram a trazer a escola como foco central de suas temáticas. Primeiro veio “Escritores da Liberdade” (Freedom Writers, EUA, 2007) e no ano seguinte, “Entre os Muros da Escola” (Entre les Murs, França, 2008). Dois filmes muito parecidos, e extremamente diferentes.

A estrutura básica dos filmes é praticamente a mesma: a dura relação entre um professor e sua turma, e todos presos a um sistema educacional que a cada dia se mostra mais datado e incapaz de vencer adversários como violência, intolerância e principalmente a falta de interesse dos alunos.

“Entre os Muros da Escola” segue a linha do cinema europeu ao retratar o cotidiano de uma escola em um subúrbio de Paris. O tom é quase documental, o nome dos atores são os mesmos de seus respectivos personagens. É um filme extremamente dialogado, com as falas sempre mediadas pelo professor François (o promissor François Bégaudeau, que além de ator também é roteirista e autor do livro no qual o filme se baseia), de planos longos e que tem o claro intuito de apenas retratar a questão da educação no subúrbio de uma grande cidade, que é sempre repleta de alunos imigrantes de várias etnias e nacionalidades, e assim as escolas são muito mais expostas a um sem número de problemas e dificuldades.

Para “Escritores da Liberdade” o tom documental não é o bastante. Apesar de ser baseado em fatos reais, o filme americano segue os moldes do cinema de seu país; é dinâmico, bem editado, tem uma boa dose de clichês e tem o objetivo claro e nítido de mostrar como uma pessoa, no caso a professora Erin Gruwell (muito bem defendida pela duplamente oscarizada Hillary Swank, de “Menina de Ouro”), é capaz de fazer a diferença e de causar impacto dentro de seu ambiente, tanto profissional como também social.

Basicamente temos uma estrutura muito parecida em ambos os filmes, um mestre em dificuldades, uma classe de alunos difíceis, um sistema educacional burro e emperrado. Até o livro que ambos os professores adotam como base para trabalhar literatura com os alunos é o mesmo nos dois filmes, “O Diário de Anne Frank”.

“Entre os Muros da Escola” e seu tom documental apenas retratam uma realidade nua e crua, sem interferir propriamente na questão ou propor soluções; “Escritores da Liberdade” é por sua vez um filme muito mais apaixonado e parcial, que ressalta com muita propriedade que a boa vontade, a persistência e o amor e dedicação profissional podem sim fazer a diferença. Talvez seja exatamente disto que o ensino de base precise, de mais professores dedicados, perseverantes e principalmente criativos.

De qualquer forma ambos os filmes são muito bons e possuem seus valores e particularidades a serem exploradas e apreciadas. Mas o que distingue realmente um do outro talvez seja uma questão de cultura cinematográfica. Em uma conversa com um amigo cinéfilo sobre os dois filmes, chegamos ao seguinte consenso: “no cinema americano o herói (ou heroína, no caso) sempre pode, e no cinema europeu o herói sempre tenta...”.