



O cinema nacional é assunto de debate desde que me entendo por gente. É um assunto extremamente polêmico e cheio de opiniões contraditórias, recheado de lembranças passadas e também passível de muito, mas muito preconceito.
O espectador "normal", aquele que não é cinéfilo e assiste filmes como forma de entretenimento e diversão, e não os enxerga como arte ou até religião, é a grande maioria do público no mundo todo. No Brasil não é diferente, para a maioria cinema é diversão e para poucos é um hobby e/ou algo muito maior que isso.
Mas essa grande maioria não se furta de falar e opinar sobre o cinema nacional. Para as pessoas que nasceram na década de 60 até a de 70 a imagem do cinema nacional ainda traz ecos das chanchadas e da nudez. Para quem já nasceu na década de 80 figura a lembrança dos filmes sobre pobreza e seca do Nordeste. E para o público mais novo, o tom é de comédia e cinebiografias, que são hoje o grande carro chefe das bilheterias nacionais.
A questão é que o grande público têm pouco interesse pelo cinema nacional como um todo. O público brasileiro ainda é muito televisivo, e só o que a TV veicula e divulga sobre o cinema nacional é que têm alguma chance de dar certo comercialmente, salvo raras excessões.
Um bom exemplo é este simpático "As Melhores Coisas do Mundo", da sempre interessante Laís Bodanzky. É um filme que começa meio devagar mais aos poucos vai te conquistando e revela facetas e propõe discussões de assuntos atuais extremamente relevantes. Bodanzky aliás como cineasta evoluiu de forma gigantesca, onde a boa vontade de seus anteriores "Bicho de Sete Cabeças" e "Chega de Saudade" compensavam a falta de técnica. Aqui, porém, a cineasta evolui e entrega um filme tecnicamente muito bom e com substância e conteúdo no roteiro e atuações.
O filme teve até uma boa distribuição, pelo menos na cidade de São Paulo foram quase 20 salas e no Brasil quase 150 exibindo. Mas a bilheteria do filme no Brasil na primeira semana foi de 50 mil pessoas. A comédia americana boboca "Caçador de Recompensas" com a mesma quantidade de salas fez mais de 100 mil espectadores. Ou seja, o público brasileiro adora falar mal do cinema nacional, mesmo sem assistir suas produções. O nome para isto é um só: preconceito.
Citei nos cartazes acima outros filmes de mais conteúdo, como "À Deriva", "Budapeste" e "Apenas o Fim". São filmes que apesar de erros e acertos têm seu valor e têm propostas interessantes, formatos diferentes, assuntos mais profundos.
Ainda acho que a produção nacional precisa de mais regularidade e investir mais em roteiros originais. Porém continuo assistindo na medida do possível as produções nacionais que vão surgindo, e vou formando minha opinião com base naquilo que eu vejo, e não daquilo que escuto ou apenas suponho.