quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Arrumando as Malas

Existem filmes que nos deixam com uma vontade quase incontrolável de ir conhecer os lugares retratados na tela. Relembrando alguns:

Under the Tuscan Sun Image Sob o Sol da Toscana

Ah...quem não ficar maluco de vontade de conhecer a região da Toscana na Itália após ver este filme certamente tem algum problema. A diretora Audrey Wells retrata as paisagens locais como se fossem pinturas, mar de girassóis, morretes com pequeninas estradas, praças, cultura local... Tudo em "Sob o Sol da Toscana" parece nos querer levar até lá. A trama do filme também ajuda, onde Diane Lane em seu melhor momento no cinema vive uma bela história de recomeços e paixões.


Little Manhattan Image ABC do Amor

Enquanto série de tv, "Sex and the City" com certeza é a melhor pedida para quem quer ver o que Nova York tem de melhor. Mas em termos de cinema, é a pequena e saborosa comédia "ABC do Amor" que apresenta o retrato mais cativante da cidade. Na bonitinha trama, um garoto entrando na pré-adolescência se vê apaixonado por uma coleguinha e vive as dores e sofrimentos de estar apaixonado. Manhattan transborda vida nas cenas onde o protagonista anda de patinete e vê a beleza local como parte de seu cotidiano.


L'auberge espagnole Image Albergue Espanhol

Este interessantíssimo filme além de discutir temas super atuais e globais, também é uma verdadeira vitrine para as belezas da maravilhosa Barcelona na Espanha. Além das obras estupendas de Gaudi espalhadas pela cidade, o filme também a retrata como uma cidade cosmopolita, porém cheia de particularidades e orgulhosa de sua rica cultura. É um filme que transpira energia e nos faz querer estar junto com o grupo de estudantes de vários países da europa em suas baladas, faculdades, bares ou em qualquer outro lugar em Barcelona.

The Darjeeling Limited Image Viagem a Darjeeling

Wes Anderson é um diretor no mínimo curioso e único. Talvez por conta desta sua bizarrice "Viagem a Darjeeling" retrate a Índia de forma bem pouco estereotipada, e talvez por isso a notável cultura e particularidades locais soem tão interessantes e cativantes. Na trama 3 irmãos excêntricos se reúnem após a morte do pai numa viagem de trêm pela Índia a fim de procurar a mãe, que abandonou os filhos para viver no país em prol de obras humanitárias. A paisagem não é das mais deslumbrantes, mas o filme realça a questão da cultura local de uma forma tão inteligente que chega a impressionar e nos faz querer viver esta experiência; despertando nosso espírito aventureiro

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Dois países, dois filmes e um mesmo problema

 França x EUA 

O cinema já contou algumas histórias sobre o universo escolar. Algumas retrataram alunos problemáticos e seus mestres, outros tantos filmes buscaram focar o aspecto da divisão de categorias existentes no ambiente estudantil. Nerd’s, patricinhas, esportistas, descolados... Todo mundo já teve a sua vez.

Recentemente dois filmes voltaram a trazer a escola como foco central de suas temáticas. Primeiro veio “Escritores da Liberdade” (Freedom Writers, EUA, 2007) e no ano seguinte, “Entre os Muros da Escola” (Entre les Murs, França, 2008). Dois filmes muito parecidos, e extremamente diferentes.

A estrutura básica dos filmes é praticamente a mesma: a dura relação entre um professor e sua turma, e todos presos a um sistema educacional que a cada dia se mostra mais datado e incapaz de vencer adversários como violência, intolerância e principalmente a falta de interesse dos alunos.

“Entre os Muros da Escola” segue a linha do cinema europeu ao retratar o cotidiano de uma escola em um subúrbio de Paris. O tom é quase documental, o nome dos atores são os mesmos de seus respectivos personagens. É um filme extremamente dialogado, com as falas sempre mediadas pelo professor François (o promissor François Bégaudeau, que além de ator também é roteirista e autor do livro no qual o filme se baseia), de planos longos e que tem o claro intuito de apenas retratar a questão da educação no subúrbio de uma grande cidade, que é sempre repleta de alunos imigrantes de várias etnias e nacionalidades, e assim as escolas são muito mais expostas a um sem número de problemas e dificuldades.

Para “Escritores da Liberdade” o tom documental não é o bastante. Apesar de ser baseado em fatos reais, o filme americano segue os moldes do cinema de seu país; é dinâmico, bem editado, tem uma boa dose de clichês e tem o objetivo claro e nítido de mostrar como uma pessoa, no caso a professora Erin Gruwell (muito bem defendida pela duplamente oscarizada Hillary Swank, de “Menina de Ouro”), é capaz de fazer a diferença e de causar impacto dentro de seu ambiente, tanto profissional como também social.

Basicamente temos uma estrutura muito parecida em ambos os filmes, um mestre em dificuldades, uma classe de alunos difíceis, um sistema educacional burro e emperrado. Até o livro que ambos os professores adotam como base para trabalhar literatura com os alunos é o mesmo nos dois filmes, “O Diário de Anne Frank”.

“Entre os Muros da Escola” e seu tom documental apenas retratam uma realidade nua e crua, sem interferir propriamente na questão ou propor soluções; “Escritores da Liberdade” é por sua vez um filme muito mais apaixonado e parcial, que ressalta com muita propriedade que a boa vontade, a persistência e o amor e dedicação profissional podem sim fazer a diferença. Talvez seja exatamente disto que o ensino de base precise, de mais professores dedicados, perseverantes e principalmente criativos.

De qualquer forma ambos os filmes são muito bons e possuem seus valores e particularidades a serem exploradas e apreciadas. Mas o que distingue realmente um do outro talvez seja uma questão de cultura cinematográfica. Em uma conversa com um amigo cinéfilo sobre os dois filmes, chegamos ao seguinte consenso: “no cinema americano o herói (ou heroína, no caso) sempre pode, e no cinema europeu o herói sempre tenta...”.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Efeito Jane



Jane Austen foi uma das primeiras escritoras femininas e viver única e exclusivamente de literatura. É considerada um nome importante na literatura mundial e um ícone inglês. Sua literatura pode não ser considerada muito rebuscada ou intelectualmente complexa, porém o retrato que ela traçou da sociedade inglesa do século XVIII e XIX foi muito inspirador para mulheres de várias gerações.

O cinema começou a também traçar um laço de amor com a obra de Austen em 1995, com "Razão e Sensibilidade", filme que fez sucesso e foi indicado a vários prêmios, tendo até ganho o Oscar de roteiro adaptado.

Após isto vieram algumas obras menores, até que 10 anos depois, em 2005, "Orgulho e Preconceito" foi um pequeno sucesso mundial e rejuvenesceu a obra de Austen para os olhos do público jovem e moderno.

A partir daí os distribuidores brasileiros começaram a sofrer do chamado "Efeito Jane". Em 2007, a obra "Reparação" do autor Ian McEwan ganhou as telas, e por ter no elenco a mesma protagonista de "Orgulho e Preconceito", "Reparação" virou "Desejo e Reparação". Pior, no ano seguinte foi lançado um filme inspirado na vida de Jane Austen, "Becaming Jane", que no Brasil, é claro, virou "Amor e Inocência". E na capinha do dvd a ganância é tanta que a distribuidora brasileira diz que o filme retrata a vida da escritora de "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação"!?!

Neste meio tempo nos EUA também foi lançado o simpático filme "O Clube de Leitura de Jane Austen", um filme que resume um pouco este efeito que a escritora inglesa Jane Austen ainda causa em muitos leitores nos dias de hoje.


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cinema Nacional: eis a questão


O cinema nacional é assunto de debate desde que me entendo por gente. É um assunto extremamente polêmico e cheio de opiniões contraditórias, recheado de lembranças passadas e também passível de muito, mas muito preconceito.

O espectador "normal", aquele que não é cinéfilo e assiste filmes como forma de entretenimento e diversão, e não os enxerga como arte ou até religião, é a grande maioria do público no mundo todo. No Brasil não é diferente, para a maioria cinema é diversão e para poucos é um hobby e/ou algo muito maior que isso.

Mas essa grande maioria não se furta de falar e opinar sobre o cinema nacional. Para as pessoas que nasceram na década de 60 até a de 70 a imagem do cinema nacional ainda traz ecos das chanchadas e da nudez. Para quem já nasceu na década de 80 figura a lembrança dos filmes sobre pobreza e seca do Nordeste. E para o público mais novo, o tom é de comédia e cinebiografias, que são hoje o grande carro chefe das bilheterias nacionais.

A questão é que o grande público têm pouco interesse pelo cinema nacional como um todo. O público brasileiro ainda é muito televisivo, e só o que a TV veicula e divulga sobre o cinema nacional é que têm alguma chance de dar certo comercialmente, salvo raras excessões.

Um bom exemplo é este simpático "As Melhores Coisas do Mundo", da sempre interessante Laís Bodanzky. É um filme que começa meio devagar mais aos poucos vai te conquistando e revela facetas e propõe discussões de assuntos atuais extremamente relevantes. Bodanzky aliás como cineasta evoluiu de forma gigantesca, onde a boa vontade de seus anteriores "Bicho de Sete Cabeças" e "Chega de Saudade" compensavam a falta de técnica. Aqui, porém, a cineasta evolui e entrega um filme tecnicamente muito bom e com substância e conteúdo no roteiro e atuações.

O filme teve até uma boa distribuição, pelo menos na cidade de São Paulo foram quase 20 salas e no Brasil quase 150 exibindo. Mas a bilheteria do filme no Brasil na primeira semana foi de 50 mil pessoas. A comédia americana boboca "Caçador de Recompensas" com a mesma quantidade de salas fez mais de 100 mil espectadores. Ou seja, o público brasileiro adora falar mal do cinema nacional, mesmo sem assistir suas produções. O nome para isto é um só: preconceito.

Citei nos cartazes acima outros filmes de mais conteúdo, como "À Deriva", "Budapeste" e "Apenas o Fim". São filmes que apesar de erros e acertos têm seu valor e têm propostas interessantes, formatos diferentes, assuntos mais profundos.

Ainda acho que a produção nacional precisa de mais regularidade e investir mais em roteiros originais. Porém continuo assistindo na medida do possível as produções nacionais que vão surgindo, e vou formando minha opinião com base naquilo que eu vejo, e não daquilo que escuto ou apenas suponho.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

God Save the Queen(s)




As biografias de figuras históricas e notórias da realeza européia vêm ano a ano se constituindo quase que um gênero cinematográfico no mercado atual. Mas qual seria o motivo do crescimento deste estilo de filme, que é extremamente clássico e que confronta toda a tecnologia e a busca por inovações que o mundo vive hoje, sendo o cinema um dos grandes expoentes dessa nova onda tecnológica, vide o sucesso dos filmes em 3D.

Esta relação entre passado e futuro é extremamente complexa e cheia de possibilidades. Mas acho que resumidamente falando, as pessoas enxergam no passado, no clássico e na história de forma geral uma certa válvula de escape, uma fuga do mundo real para um mundo mais glamuroso. E logicamente também existe o aspecto teórico e histórico, onde a assimilação de coisas passadas podem ajudar no entendimento de acontecimentos presentes e futuros.




Falando especificamente destes quatro filmes em si, "Maria Antonieta" é sem dúvida o mais ousado e "moderninho" dos quatro. Sofia Copolla fez uso de elementos modernos na trilha sonora e recheou o filme com pitadas pop, porém não abriu mão dos figurinos e direção de arte impecáveis, como todo bom filme de época e de rainha deve ter. Uma pena que o roteiro em si de Maria Antonieta seja um pouco apático e não tenha a força e inteligência necessárias para concluir esta fusão entre passado e presente de forma satisfatória.


"A Duquesa" e "Elizabeth - A Era de Ouro" são filmes que se focam muito na vida amorosa de suas altezas, e tentam com este foco extrair uma radiografia da vida de mulheres que estiveram a frente de seu tempo, mas que amorosamente se mostraram frustradas e oprimidas por um mundo extremamente machista. Neste quesito, A Duquesa funciona bem; porém a continuação do bom Elizabeth de 1998 é extremamente mal construída.

Já "A Jovem Victoria" é a novidade deste ano, na minha opinião é o mais bem balanceado dos filmes sobre Rainhas e Duquesas. Emily Blunt está mais uma vez sensacional e o filme é interessante e bem informativo sem cair nas armadilhas românticas do gênero. Pode não ter a ousadia do Maria Antonieta, mas é certamente um bom filme e historicamente bastante informativo.

Curiosidades: Os quatro filmes citados foram ganhadores do Oscar de Melhor Figurino. Maria Antonieta em 2007, Elizabeth - A Era de Ouro em 2008, A Duquesa em 2009 e A Jovem Victoria em 2010.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Filmes e Poesia

Alguns filmes não são apenas diversão, como todos sabemos. Mas muitas vezes eles também conseguem transpor barreiras ou linguagens, são diferentes e únicos.

A relação entre filmes e poesia surgiu na minha cabeça, creio, pelo fato de a poesia, apesar de bela, muitas vezes ser uma leitura difícil, complexa e destituída de ritmo para leitores (como eu) acostumados com livros de ficção e com narrativa fluente.

Este também pode ser o caso de alguns filmes, e dois deles me chamaram a atenção recentemente por me provocarem este sentimento.

"Bright Star" (ou Brilho de Uma Paixão, como deve ficar o título nacional) é um filme tipicamente poético. Aliás, ele realmente o é sobre um poeta, o inglês John Keats. O filme romanceia sua vida amorosa com Fanny Brawne em seus últimos anos de vida. O projeto é conduzido por Jane Campion, sempre uma diretora interessante, e o duo de atores centrais Ben Whishaw e Abbie Cornish está magnífico. O filme esteticamente é belíssimo, lindas imagens e um profundo sentido poético podem ser observados pelo espectador. Não é, contudo, um filme fácil, já que o ritmo é lento e por vezes chega ele chega a ser declamado demais. Mas sua beleza e sensibilidade são inegáveis.

"Onde Vivem os Monstros" também considerei um filme extremamente poético. Spike Jonze conseguiu imprimir sua marca clássica de estranheza e um pouco bizarra mas não deixou o filme soar apenas excêntrico. É um belo retrato sobre a infância e a solidão de um garoto (o ótimo Max Records) que encontra num mundo imaginário uma forma de se integrar e dar sentido a sua breve, porém importante existência. O filme não é muito atrativo para crianças, mas para adultos pacientes com seu ritmo relativamente lento, é com certeza uma produção capaz de emocionar e fazer pensar.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Achados ou Perdidos

Alguns filmes não conseguem chegar ao circuito de cinema brasileiro, e são lançados diretamente em dvd. Isso acontece geralmente quando o filme é americano e ele acaba não fazendo muito sucesso comercial por lá, por mais que a crítica tenha sido favorável.

Esse pensamento, creio eu, faz parte de um círculo vicioso que se criou, de um preconceito meio bobo de que qualquer filme europeu de arte, mesmo ruim, é melhor intelectualmente que um filme americano. Hollywood produz ano a ano filmes extremamente comerciais, mas também existem filmes nos EUA produzidos com esforço e de forma independente, fora do eixo comercial.

Porém o público e os distribuidores brasileiros ainda parecem afeitos a esta idéia um tanto ultrapassada de valorizar a penas o que vem da Europa como sendo cult e cabeça, e generalizar a produção americana, tomando-a apenas por cinema comercial e diversão passageira.

Proponho aqui apresentar dois filmes americanos que talvez tenham sofrido este preconceito, não foram distribuídos nos cinemas e ganharam ainda por cima títulos infames no Brasil para serem lançados em dvd.

"Por uma Vida Melhor" foi o título dado para Away We Go, filme mais recente de Sam Mendes (Beleza Americana, Foi Apenas Um Sonho). É um misto de comédia e drama que em forma de road movie vai apresentando lugares e pessoas que o casal de protagonistas (os ótimos Jonh Krasinski e Maya Rudolph) vão conhecendo e deixando para trás, na tentativa de dar um rumo para suas vidas e encontrar o lugar ideal para se fixarem e formarem sua família.

É um filme que disserta muito sobre o peso que é na vida de qualquer um ter um lar, ser uma pessoa com um emprego, com uma vida estável. E junto com essa agonia do par central, o roteiro também vai revelando que o "normal" é algo muito relativo, já que as pessoas que ambos encontram pelo caminho podem já ter suas vidas fixadas e estabilizadas, mas são também cheias de frustrações e excentricidades.

É um filme agradável, doce e incrivelmente simpático. E com uma trilha sonora ótima.

Já "Férias Frustradas de Verão" foi o vexaminoso nome dado para Adventureland. Este é o típico filme que engana qualquer um, seja pela capa, pelo trailer, por este título boboca brasileiro e também pelo nome de Greg Motolla (de Superbad) na direção. "Superbad" era uma comédia tipicamente "American Pie" com um tanto a mais de cérebro e sentimento. Já Adventureland é mais do que uma simples comédia, é um filme nostálgico e cheio de sutilezas sobre adolescência, amor, primeiros empregos, dúvidas e tantas outras questões que nos afligem na adolescência.

Foi na minha opinião sem dúvida um dos filmes que mais gostei de ver no ano passado. O ambiente do parque em si, onde se desenrola toda a história, já proporciona esta nostalgia, pois o filme se passa no final na década de 80 e lá ainda existiam brinquedos mais pueris e singelos, e o mundo eletrônico e ultra moderno de hoje ainda faziam parte dos mais distantes sonhos.

Não querendo soar muito repetitivo, é um filme também muito agradável, doce e bastante divertido. E a trilha sonora deste também é genial.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Cinebiografias Femininas



Amelia e Coco 

As cinebiografias sempre estão em voga no cinema, e podem ser consideradas um investimento seguro por quase sempre agradar a crítica e ter boas chances no Oscar, principalmente os atores responsáveis por encarnar com todos os detalhes, físicos e psicológicos, a vida de pessoas célebres em seu tempo.

É o caso destas duas produções que retratam duas mulheres célebres, a americana Amelia Earhart no filme "Amelia" dirigido por Mira Nair, e a francesa Gabrielle Coco Chanel no filme "Coco Antes de Chanel", dirigido por Anne Fontaine.

Apesar de algumas coincidências, cada filme opta por seguir um caminho distinto.

Começo por "Amelia" que retrata a vida da lendária norte-americana que foi uma pioneira na aviação, sendo a primeira mulher a conseguir cruzar o pacífico pilotando um avião. As intenções do filme são bastante claras e a edição segue um caminho clássico: inicia o filme com um pedacinho do clímax final e depois retrocede para mostrar como se chegou até ali. "Amelia", nota-se, é um filme cheio de boas inteções. Figurinos e direção de arte impecáveis, boa fotografia, a sempre esforçada Hilary Swank dá o seu melhor... Mas a verdade é que de boas intenções, como se sabe, o inferno está cheio; e na prática o filme peca por ser esquemático demais, controlado demais e por vezes clichê demais. Mira Nair nas poucas chances que tem de contornar essa retranca mostra-se pouco experiente ao lidar com cenas de ação e gélida ao lidar com a vida amorosa de Earhart.

Já "Coco Antes de Chanel" propõe algo arriscado em termos de biografias, o de mostrar o mito antes de este se tornar célebre, e assim retratar os fatos e pequenos detalhes que fizeram tal pessoa, no caso a famosa estilista francesa Coco Chanel, se tornar conhecida e admirada. Esta atitude acaba por frustrar o espectador que espera encontrar no filme a materialização visual daquilo que ele já conhece da Chanel. Mas inegavelmente para quem aprecia um cinema mais intimista e original, esta é sim uma proposta muitíssimo louvável. E Anne Fontaine não decepciona ao retratar com riqueza de detalhes e sentimentos a vida de Coco Chanel, em mais um notável desempenho de Audrey Tautou. As dificuldades financeiras e idas e vindas de sua vida amorosa foram fatores, segundo "Coco Antes de Chanel" determinantes na vida da estilista, que muito transportou da sua atitude para as suas roupas; e assim se tornou um ícone e uma marca ainda fortíssima no mundo da moda.


Curiosidades: Na corrida pelos prêmios, "Coco Antes de Chanel" levou a melhor, foi indicado ao Oscar de Melhor Figurino e obteve uma série de outras indicações nas premiações européias. Já "Amelia" não foi indicado a nada.

Em termos de bilheteria, "Coco" também teve mais sorte. O filme custou 23 milhões e obteve mais de 50 milhões mundialmente de bilheteria. Já "Amelia" deu prejuízo, custou 40 milhões e rendeu apenas 20 milhões mundialmente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Livro x Filme

X

"Uma Vida Interrompida" escrito por Alice Sebold fez bastante sucesso na época em que foi lançado, tanto nos EUA como aqui no Brasil. A temática pode não ser totalmente nova, mas a forma como Sebold disserta sobre a morte e também a forma como ela relata a visão e percepção da pessoa que se foi têm do impacto que a sua morte causa nas pessoas que ficaram é bastante eficiente, e por vezes emocionante.

Eu já li o livro há um bom tempo, mais de 5 anos. E o que ficou para mim realmente foi o drama da família, me marcou a forma como a autora desenvolve esta perspectiva familiar, onde o pai se torna obcecado por tentar descobrir o que aconteceu com a filha, a mãe se fecha e desesperadamente tenta seguir em frente, o casamento se corrói, os irmãos mais novos acabam sofrendo...

O livro não chega a ser uma leitura fácil, porque se Sebold sabe como emocionar, ela também soube criar uma retranca forte e entupiu o livro de longas descrições sobre o local onde a protagonista Susie se encontrava, uma espécie de lugar de passagem e de transição.

O filme, que no Brasil ganhou o título "Um Olhar do Paraíso", tinha tudo para ser aquele tipo de filme que poderia superar a obra que lhe deu origem. O elenco escalado era forte, a direção e roteiro ficou com o ganhador do Oscar Peter Jackson e os efeitos especiais tinham tudo para suavizar e dar ritmo as por vezes cansativas descrições de Sebold.

Mas na prática não foi o que aconteceu. "Um Olhar do Paraíso" sofreu uma série de percalços (ver abaixo nas Curiosidades) e o resultado final é um filme apenas mediano, que em muito deve ao seu material de origem. A grande força do filme, o drama familiar, é muito prejudicado por uma edição infeliz e pela atuação desencontrada de Mark Wahlberg como o pai de Susie. Apesar dos esforços de Weisz, Sarandon, Tucci e principalmente de Saiorse Ronan como Susie, as atuações acabam se perdendo pela ineficiência do roteiro em fundamentar e dar crédito ao drama familiar como um todo, e não apenas ao drama individual de cada um.

Tecnicamente o filme é bonito, os efeitos visuais e direção de arte são bons, mas por vezes Jackson erra feio no tom e acaba soando brega e o tal paraíso por vezes soa totalmente cafona e de mal gosto. No geral é um filme com um potencial muito grande que acabou resultando em algo apenas regular e razoável.

Notas: Filme 6,5
Livro 8,0

Curiosidades: O intérprete original do papel do pai Jack era Ryan Goslin, mas já na fase de pré-produção o ator se desentendeu com Peter Jackson e deixou a produção.

A produção do filme foi interrompida em alguns momentos pois Peter Jackson teve crises em relação ao Paraíso onde Susie passa boa parte do filme. A tonalidade das nuvens e outros fatores fizeram Jackson ter sérias crises criativas e atrasaram o cronograma do filme.

terça-feira, 23 de março de 2010

Clássico

O que Terá Acontecido a Baby Jane?

A primeira coisa a ser dita sobre "O Que Terá Acontecido a Baby Jane" é que este sem dúvida alguma não é um filme clássico comum.

Na verdade o filme tinha poucas chances de ser considerado um clássico. A produção foi relativamente barata e o roteiro misturava drama e suspense com pitadas cômicas, uma combinação difícil de dar certo. Mesmo as atrizes principais, as estrelas Bette Davis e Joan Crawford, já não estavam mais no auge de suas carreiras e viviam um momento de certo ostracismo no cinema.

Corre a lenda na verdade que ambas só aceitaram fazer este filme porque se odiavam mesmo, assim como as irmãs que elas encarnam na trama. Jane (Davis) fez muito sucesso quando criança, sempre observada pelo olhar com um que de inveja de sua irmã Blanche (Crawford). Já adultas, é Blanche quem vira uma estrela de cinema, enquanto Jane amarga fracassos e rejeições. Já velhas e esquecidas, ambas vivem agora em um casarão, onde a agora paralítica Blanche fica a mercê das vontades da perturbada Jane.

"O que Terá Acontecido a Baby Jane" é um filme recheado de sarcasmo e de um humor negro notável. Na verdade ele funciona mesmo talvez pela palpável rivalidade entre as irmãs, que respiram ódio e mágoas profundas. O jogo de terror psicológico travado entre ambas é o grande apelo do filme, que se tornou cult e sobreviveu ao tempo graças a uma rivalidade real levada para dentro da tela.

Curiosidades: Boatos dizem que dentro do set a rivalidade entre ambas estrelas era grande. Joan Crawford era na época casada com um dos donos da Pepsi, e para provocá-la Bette Davis mandou instalar uma máquina de Coca-Cola em pleno set. Para se vingar, nas cenas onde Davis tinha de arrastá-la, Crawford colocava peso em seus bolsos.

O filme brasileiro "Irma Vap - O Retorno" é todo ele uma colagem de "O Que Terá Acontecido a Baby Jane", copiando muitas situações do filme clássico de 1962.

"O que Terá Acontecido a Baby Jane" foi o último filme pelo qual Bette Davis concorreu ao Oscar de Melhor Atriz. O filme ganhou o Oscar de Melhor Figurino e recebeu ainda outras três indicações.