terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Livro x Filme: A Vida de Pi



Bom, desprezemos o fato de que a distribuidora nacional alterou o título nacional do filme para "As Aventuras de Pi", pois essa mudança em nada acrescenta, pelo contrário, fez a editora mudar a o nome do livro  na capa da nova edição (algo muito, muito errado).

Há muito tempo que eu vinha tentando comprar o livro, mas nunca tive sucesso. Nunca o achei em algum sebo ou com um preço bacana em alguma livraria. Com a chegada iminente do filme, contudo, tive que me apressar. Não costumo ler um livro depois de ver um filme, pois para mim perde toda a graça.

Vamos pular a polêmica envolvendo o livro, de que ele seria um plágio da obra  "Max e os Felinos" do escritor brasileiro Moacyr Scliar. Antes de falecer o escritor tinha colocado um ponto final nessa história, então não vale a pena voltar a esse assunto. Mas vale ressaltar que Yann Martel escreveu a obra há mais de 10 anos e depois disso nunca mais ninguém ouviu falar do autor, que lançou mais um livro que aborda animais (Beatriz & Virgílio) que fez sucesso nulo.

Em minha opinião após a leitura fica claro que Yann Martel realmente não é mesmo um escritor brilhante. Se o conceito e as ideias no livro são espetaculares, a realização deixa um pouco a desejar. A prosa sofre um pouco com falta de fluência e algumas discussões e assuntos abordados não levam a lugar nenhum.

Ressalto especialmente a questão religiosa, que Martel aborda sem desenvoltura e que não utiliza a contento no decorrer da trama.  Por outro lado ele consegue com êxito demonstrar a importância dos animais na vida de Pi, especialmente o tigre Richard Parker, co-protagonista da trama.

 Já o filme de Ang Lee (que assumiu o projeto depois de várias baixas e problemas criativos) consegue com inteligência impressionar pelo visual magnífico e pela lição de vida como um todo que a obra nos apresenta, sem se focar muito nos detalhes, fazendo passar despercebidos as minúcias da obra. 

Vale ressaltar que o filme abraça um pouco melhor a questão da religiosidade e do sentimento de perda e solidão de Pi. Por outro lado o roteiro minimiza um pouco a relação de Pi com Richard Parker, tornando-a uma relação mais de medo, perigo e trapalhadas e menos de adoração, admiração e aprendizado que o livro trata de forma inteligente. E tanto o livro quanto o filme escorregam na tentativa de discutir a surrealidade dos fatos, de contrapor a realidade da imaginação. As simbologias e as questões que vão além da razão ficam meio que à deriva em ambos os suportes.

No geral o filme consegue impressionar um pouco mais pela utilização incrível do visual 3D e dos efeitos especiais. Mas ambos possuem problemas estruturais, que de certa forma comprometem a relação de cumplicidade do espectador e/ou leitor com o personagem Pi. Um erro fatal no livro, que o filme sabiamente minimizou ao máximo.

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